Alana derruba chinesa pela primeira vez no ano para ganhar bicampeonato paralímpico
De quimono azul, Alana está com um joelho apoiado no tatame enquanto se levanta já com os dedos de ambas as mãos fazendo o número 2, referente ao bicampeonato. Ao seu lado, Wang está caída no chão, de bruços e o pescoço levemente erguido. Fotos: Alexandre Schneider/ CPB.

Alana derruba chinesa pela primeira vez no ano para ganhar bicampeonato paralímpico

por Comunicação CBDV publicado 2024/09/06 15:24:00 GMT-3, Última modificação 2024-09-06T15:25:08-03:00
Após perder as três lutas da temporada, brasileira, enfim, supera Yue Wang; Brasil também é prata com Brenda

06/09/2024
Paris/FRA


O destino reservou à paulista Alana Maldonado a melhor revanche possível contra a chinesa Yue Wang. Nesta sexta (6), a judoca paulista, enfim, superou sua algoz da temporada na luta mais importante de todas: a final dos Jogos Paralímpicos de 2024 na categoria até 70 kg para atletas J2 (baixa visão). Após ter perdido três finais no circuito internacional deste ano para a asiática, líder do ranking mundial atualmente, Alana derrubou Wang duas vezes para conseguir um ippon na Arena Campo de Marte e garantir a segunda medalha de ouro paralímpica de sua carreira, defendendo, assim, o então título inédito conquistado em Tóquio 2020.


A atleta de 28 anos, que já entrara para a história como a primeira judoca do país campeã paralímpica e a primeira também a conquistar um Mundial – ganhou duas vezes, em Baku 2022 e Odivelas 2018 –, segue ampliando a coleção de feitos. 


"Além das três vezes que eu perdi este ano, eu sofri uma lesão muito séria no primeiro encontro que tive com ela, em 2023, e acabei ficando o ano todo fora dos tatames. Sonhei muito com esse momento. Sonhei o tempo todo, eu me via no pódio, me via ouvindo o Hino Nacional. Pouco tempo antes de vir pra cá, eu tive várias coisas passando pela minha cabeça: se eu era capaz de chegar aqui, ganhar e fazer história de novo. Deus me fortaleceu e me mostrou que eu sou capaz", disse Alana, que, aos 14 anos, descobriu a doença de Stargardt, que provoca a perda progressiva da visão.

 

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Já de agasalho amarelo com detalhes em verde, Alana sorri e mostra a medalha de ouro que traz pendurada no pescoço com a mão direita. Com a esquerda, ela segura uma miniatura da mascote dos Jogos de Paris que todos os atletas medalhistas recebem na premiação.


O caminho até o ouro teve dois obstáculos. Em uma categoria com apenas seis atletas, a agora bicampeã entrou direto na semifinal, quando derrubou a japonesa Kazusa Ogawa, terceira melhor do mundo – Ogawa ganharia depois o bronze de outra brasileira inscrita nesta chave, a sul-mato-grossense Kelly Kethyllin, de apenas 20 anos, que recebeu de última hora um convite do Comitê Paralímpico Internacional para disputar a Paralimpíada francesa e lutou duas vezes: além do combate valendo bronze, perdeu na estreia para Ina Kaldani, da Geórgia, vice-campeã paralímpica em Tóquio.


Na final, Alana não deu chances a Wang e, com dois wazaris – um aos 36 segundos de luta e outro a 2:06 –, entrou para a história mais uma vez. Diferentemente de outras conquistas, desta vez, Alana estava bastante emotiva e chorou em diversos momentos da entrevista concedida após a cerimônia de premiação. Ela explicou o porquê: "Porque este ciclo foi muito difícil para mim. Logo após Tóquio, eu tive uma lesão, passei por uma cirurgia. Depois, veio outra lesão, fiquei o ano passado todo fora. Também tive problemas com depressão que me fizeram pensar se continuava ou parava de lutar. E, pouco antes de vir pra cá, eu tive uma crise no treino, de parar e começar a chorar. Precisei respirar e dizer a mim mesma que eu conseguiria".


Brenda ganha a prata em sua 1ª Paralimpíada


Uma das nove atletas da Seleção Brasileira estreantes em Jogos Paralímpicos, a carioca Brenda Freitas, de 29 anos, conquistou a medalha de prata. Na final da categoria até 70 kg para atletas J1 (cegos totais), ela acabou superada pela chinesa Li Liu, que lidera o ranking mundial, após comemorar por alguns segundos o ouro. Explica-se: Brenda derrubou Liu, e a arbitragem chegou a marcar o ippon para a brasileira, mas, após análise do árbitro de vídeo, o golpe foi anulado. Na sequência do combate, a chinesa conseguiria um wazari que determinaria o resultado final.


"É um pouco de frustração, porque eu me preparei e me dediquei muito para chegar aqui da melhor forma possível. Eu queria tanto essa medalha, e ganhar o ouro seria uma forma de agradecer a todo mundo que me apoiou até aqui. Por um momento, ela esteve ali na minha mão. E, depois, eu tentei me concentrar novamente, mas acabei vacilando um pouco ali no chão e deu ruim!", disse
 Brenda, que perdeu a visão aos 18 anos, após um descolamento de retina provocado por herpes emocional.

 

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Brenda está de pé e faz cara de extremo esforço para tentar deslocar a chinesa, que está abraçada à cintura da brasileira com o corpo curvado.


Harlley e Lúcia ficam no quase


Dois dos atletas mais experientes da delegação da CBDV (Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais) presente na capital francesa, o mineiro Harlley Arruda, de 45 anos, e a paulista Lúcia Araújo, de 43, chegaram às disputas pela medalha de bronze de suas respectivas categorias, mas acabaram perdendo os combates decisivos e ficando de fora do pódio.


Em sua quarta participação, Harlley nunca havia chegado tão perto de uma medalha. Nono colocado em Tóquio 2020, na Rio 2016 e em Londres 2012, ele começou a jornada em Paris derrotando o italiano Dongdong Camanni, quarto colocado do mundo, uma posição à frente do brasileiro, em combate decidido apenas no "golden score", como é conhecida a prorrogação na modalidade depois de os quatro minutos regulamentares terminarem sem pontuação de nenhum atleta. Nas quartas, bateu o argentino Eduardo Gauto, sétimo do ranking. Na semi, foi superado pelo melhor judoca da categoria até 73 kg para atletas J1, o romeno Florin Bologa. Na luta pelo bronze, Harlley foi derrotado pelo português
 Djibrilo Iafa, sexto melhor do mundo.


"Eu fiz tudo o que estava dentro do possível. Hoje era o dia dele, e parabéns ao português. Eu lutei, eu dei o meu melhor, mas, infelizmente, não deu", falou Harlley, que perdeu a visão dos dois olhos em 1999, em um acidente com arma de fogo.

 

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De quimono azul, Harlley tenta projetar o corpo do italiano Dongdong segurando ele pelo braço direito.

 

Já Lúcia, que esteve presente em todos os Jogos desde Pequim 2008 e já tinha no currículo duas pratas e um bronze, sendo este último conquistado na edição passada, precisou fazer uma competição de recuperação. Na estreia, perdeu da ucraniana Dayana Fedossova, terceira do ranking na categoria até 57 kg para atletas J2 – a brasileira é a sexta. Na repescagem, Lúcia venceu a argentina Laura González, o que lhe credenciou a duelar com a espanhola Marta Arce Payno, quarta do mundo, pelo pódio. 

 

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Lúcia derrua a argentina Paula González e grita enquanto executa o fim do movimento do golpe, apoiando seu corpo sobre o da oponente, que está de costas para o tatame.


Pesos-pesados encerram o judô neste sábado


O Brasil terá mais seis atletas em ação na Arena Campo de Marte neste sábado, a partir das 4h30 (de Brasília), com as preliminares. As finais estão marcadas para começar às 10h30. Veja quem entra no tatame:

  • Erika Zoaga (+70 kg / J1)
  • Rebeca Silva (+70 kg / J2)
  • Arthur Silva (90 kg / J1)
  • Marcelo Casanova (90 kg / J2)
  • Wilians Araújo (+90 kg / J1)
  • Sergio Fernandes Jr. (+90 kg / J2)


O Brasil já havia conquistado um bronze com Rosi Andrade na quinta-feira, primeiro dia de competições da modalidade nos Jogos de Paris. Ao todo, o judô paralímpico já rendeu ao país 28 medalhas na história: agora, são seis ouros, dez pratas e 12 bronzes.

 

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Renan Cacioli
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