Arthur, Wilians e Rebeca colocam judô paralímpico do Brasil no topo do pódio em Paris
Arthur vibra no pódio, segurando a miniatura da mascote dos Jogos com a mão direita e com a medalha de ouro ao redor do pescoço. Fotos: Marcello Zambrana/CPB.

Arthur, Wilians e Rebeca colocam judô paralímpico do Brasil no topo do pódio em Paris

por Comunicação CBDV publicado 2024/09/07 15:57:00 GMT-3, Última modificação 2024-09-08T05:37:27-03:00
Além de três ouros, país ganha prata, com Erika Zoaga, e bronze, com Marcelo Casanova, e faz sua melhor campanha na história

07/09/2024
Paris/FRA


A Seleção Brasileira de judô paralímpico encerrou sua participação nos Jogos de Paris 2024, neste sábado (7), com três medalhas de ouro: na classe J1 (cegos totais), Arthur Silva venceu na categoria até 90 kg, e Wilians Araújo, na acima de 90 kg; na J2 (baixa visão), Rebeca Silva levou a melhor na categoria acima de 70 kg. O Brasil ainda faturou uma prata, com Erika Zoaga (+70 kg na J1), e um bronze, com Marcelo Casanova (até 90 kg na J2). 


Somadas essas conquistas ao ouro de Alana Maldonado, à prata de Brenda Silva e ao bronze de Rosi Andrade nos dias anteriores, o país fechou sua jornada na capital francesa com oito pódios – quatro ouros, duas pratas e dois bronzes – e fez a melhor campanha no geral, à frente de Ucrânia (três ouros e dois bronzes) e China (dois ouros, uma prata e dois bronzes). Com isso, também superou a melhor campanha brasileira até então em Paralimpíadas, que havia sido em Pequim 2008, com um ouro, duas pratas e dois bronzes.


Arthur e Wilians ainda quebraram uma escrita: até hoje, apenas Antônio Tenório havia conquistado a medalha de ouro para o Brasil entre os homens (Atlanta 1996, Sydney 2000, Atenas 2004 e Pequim 2008).


"É tudo por ela, para ela. Quero que ela tenha muito orgulho do pai que ela tem, uma pessoa com deficiência que conseguiu vencer por meio do esporte", disse o paraibano Wilians Araújo, de 32 anos, que dedicou o título à filha, Carolina, de um ano e seis meses. O judoca encerrou este ciclo conquistando os dois principais títulos em sua categoria, o paralímpico, agora em Paris, e o Mundial, no Azerbaijão, em 2022. No caminho até o ouro na França, o líder do ranking mundial derrubou o cazaque Yerlan Utepov, nas quartas, e Ganbat Dashtseren, da Mongólia, na semi. Na final, derrotou Ion Basoc, da Moldávia, um dos poucos oponentes que conseguiram vencer o brasileiro neste ciclo, na final do Grand Prix da Geórgia deste ano. "É um cara contra quem eu tinha um retrospecto de 3 a 1 e, agora, consegui fazer o 4 a 1. É muito bom poder construir essa história" completou o atleta, que perdeu a visão aos 10 anos em um acidente com tiro de espingarda de chumbinho. 

 

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Wilians está sentado no tatame da Arena Campo de Marte, juntando as mãos à frente do corpo e com expressão de choro, após a final.


"Eu sei que dei o meu melhor em cada dia da minha preparação. A ansiedade para a final foi indescritível, mas o nervosismo foi controlado e tive muita, mas muita, muita vontade de vencer!", afirmou o potiguar Arthur Silva, de 32 anos, que disputou os Jogos pela quarta vez na carreira. Sua melhor participação, até então, fora o quinto lugar em Tóquio 2020. Primeiro colocado do ranking, Arthur atropelou os oponentes até chegar ao topo do pódio. Primeiro, eliminou o uzbeque Turgun Abdiev, nas quartas. Na semifinal, despachou o turco Yasin Cimciler, quarto melhor do mundo. Na luta valendo o ouro, reencontrou o britânico Daniel Powell, velho conhecido no circuito internacional e terceiro no ranking.

 

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Arthur se projeta sobre Powell, que está deitado com o corpo curvado e tenta evitar encostar as costas no tatame.


Não à toa, os três medalhistas medalhistas de ouro do dia lideram suas categorias no ranking mundial. No caso da líder entre as pesos-pesados da classe J2, a paulista Rebeca Silva, de 23 anos, havia uma diferença importante: ela nunca havia disputado uma edição de Jogos antes. A vitória sobre a cubana Sheyla Hernandez Estupinan, na final, deixou claro que a inexperiência não pesou na briga pelo ouro. "Eu não estou acreditando! Eu não acredito! Tudo que eu passei, acho que poucas pessoas sabem, só a minha família. Muito orgulho de ter ganhado a medalha de ouro com eles aqui presentes, meu pai, minha mãe, meu irmão, minha cunhada, todos que vieram. Eu não tô acreditando ainda!", repetia, eufórica, a atleta na saída do tatame.


Depois de uma estreia menos problemática contra Dursadaf Karimova, do Azerbaijão, nas quartas, Rebeca esteve a segundos de ser derrotada pela italiana Carolina Costa, na semi, quando perdia por um wazari. Nos seis segundos finais, conseguiu aplicar uma técnica de ne-waza (luta de solo) e imobilizar a adversária para o ippon. "Acho que só vinha na minha cabeça: 'não desista, não desista, vá até o final!' E foi só isso que eu escutei até agora", completou a judoca, que nasceu com Amaurose Congênita de Leber (ACL), uma doença degenerativa hereditária rara que afeta a retina.

 

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A cubana Sheyla Estupinan e Rebeca estão de pé, segurando nos quimonos uma da outra e tentando encaixar as pernas para fazer a alavanca e aplicar o golpe.


Erika fica com a prata, e Marcelo fatura o bronze


Já a sul-mato-grossense Erika Zoaga só foi estrear em uma Paralimpíada agora, aos 36 anos. Ela, que nasceu com glaucoma congênito, conheceu o judô em 2006 por indicação de uma amiga, a também judoca Michele Ferreira. Dezoito anos depois, ela se junta a um seleto grupo de mulheres do Brasil medalhistas na modalidade. "Eu não consigo nem explicar. Passa um filme na minha cabeça de toda essa trajetória", disse a agora vice-campeã paralímpica entre as pesos-pesados na classe J1. Quinta colocada do ranking, a brasileira tirou do caminho a venezuelana Danitza Sanabria, terceira do mundo, nas quartas; na semi, venceu a vice-líder do ranking, a turca Nazan Akin Gunes. Na decisão, não conseguiu superar a melhor judoca da categoria, a ucraniana Anastasiia Harnyk.

 

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No pódio, Erika sorri enquanto toca a medalha de ouro que traz ao redor do pescoço. Ela veste agasalho amarelo e segura uma mascote de pelúcia dos Jogos na mão esquerda.


Outro dos nove estreantes do judô dentre os 15 convocados pelo Brasil, o gaúcho Marcelo Casanova, de apenas 21 anos, fez bonito em sua primeira participação ao ganhar do britânico Evan Molloy no combate inicial e dar bastante trabalho ao francês Helios Latchoumanaya, um dos principais nomes do judô paralímpico mundial, que bateu o brasileiro na semi. No duelo pelo bronze, Marcelo foi com tudo para cima do italiano Simone Cannizzaro e ganhou. "Eu estou nas nuvens. Estar aqui sempre foi um sonho para mim, mas nem nos meus melhores sonhos, eu pensei que fosse conquistar essa medalha", falou o judoca, que tem deficiência visual em decorrência do albinismo. 

 

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Ainda com o corpo perto do italiano Cannizzaro, Marcelo estica os braços para o alto e vibra com a vitória no duelo pelo bronze.


Ainda neste sábado, outro brasileiro entrou no tatame, mas perdeu seus dois combates e ficou de fora da briga pelo pódio: o carioca Sergio Fernandes Jr., de 24 anos, acabou derrotado pelo cazaque Zhurkamyrza Shukurekov na estreia e, na repescagem, levou a pior contra o indonésio Tony Ricardo Mantolas.


O judô paralímpico segue sendo uma das modalidades que mais medalhas rendeu ao Brasil: agora, são 33, sendo nove ouros, 11 pratas e 13 bronzes.

 

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Comunicação CBDV
Renan Cacioli
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