'Nossa missão é voltar ao topo em Los Angeles', diz novo técnico da Seleção de futebol de cegos
Cesinha tem a pele morena, cabelo preto curto e barba e bigode ralos. Ele segura no braço de Jefinho, que está de costas para a imagem, enquanto passa instruções ao jogador durante partida em Paris 2024. Foto: Ana Patrícia Almeida/CPB.

'Nossa missão é voltar ao topo em Los Angeles', diz novo técnico da Seleção de futebol de cegos

por Comunicação CBDV publicado 2024/11/08 11:54:00 GMT-3, Última modificação 2024-11-08T12:10:55-03:00
Júlio César Macena, o Cesinha, assume comando do Brasil e fala sobre desafio de substituir Fábio Vasconcelos no cargo

08/11/2024
São Paulo/SP


Os caminhos de Júlio César Macena, novo treinador da Seleção Brasileira de futebol de cegos, e Fábio Vasconcelos, seu antecessor no cargo, vinham se cruzando desde 2021, quando o ex-goleiro e técnico multicampeão pelo Brasil convidou o então ex-atleta profissional de futsal a conhecer a modalidade paralímpica em João Pessoa, na Paraíba. Agora, aos 39 anos de idade, Cesinha, como é conhecido, tem a missão de substituir seu "professor" e colocar o país de volta no topo do pódio nos Jogos de Los Angeles 2028, depois da campanha do bronze em Paris 2024 – a primeira na história que terminou sem a medalha de ouro aos brasileiros após cinco ciclos dourados consecutivos.


"É uma honra estar assumindo a Seleção. Estou muito feliz, é um sonho que realizo. Sei que não vai ser fácil, pois estou assumindo o lugar de um cara que revolucionou a modalidade, o maior campeão de todos os tempos. Mas me sinto preparado para este momento", diz Cesinha, que foi chamador do time na campanha em Paris. Antes, já havia trabalhado com a Seleção Sub-23, com a qual ganhou dois títulos em 2023, o Parapan de Jovens de Bogotá e o Grand Prix da França, e com a criançada da iniciação. 


"Essa será a maior missão, recuperar o topo, a hegemonia em Los Angeles. Sabemos que não será fácil, a gente viu no último ciclo o quanto as equipes evoluíram. Mas tenho certeza de que trabalharemos muito para colocarmos o Brasil onde ele merece estar, que é no topo", falou o treinador, que foi campeão brasileiro em 2022, pela Apace-PB (Associação Paraibana de Cegos), e três vezes ganhador do Regional Nordeste (2024, 2023 e 2022). "Eu pego uma Seleção bem treinada, que vem junta há 12 anos, bem estruturada, com jogadores inteligentes taticamente que conseguem absorver o que você pensa para colocar em prática. Pretendo manter algumas coisas, como a intensidade com que a equipe já vinha jogando, a transição rápida tanto ofensiva quanto defensivamente, e colocar algumas ideias do que penso", explica Cesinha.


Ao seu lado como auxiliar técnico, ele terá Josinaldo Sousa, o Bamba, que trabalhou nesta mesma função nos últimos anos e será mantido na comissão do novo treinador. Vale lembrar que Fábio Vasconcelos assumiu o cargo de Coordenador Técnico de Seleções da CBDV (Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais).

 

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Cesinha está apoiado na banda lateral da quadra entre Fábio e o auxiliar Bamba, falando com os jogadores durante treino este ano, em João Pessoa. Foto: Renan Cacioli/ CBDV.


Frequentador de quadras de futsal desde os 8 anos de idade, Cesinha chegou a se profissionalizar no esporte, mas uma lesão no joelho interrompeu os sonhos como atleta. Formado em Educação Física, ele é casado e pai de dois filhos, Júlia Vitória, de 19, e Júlio Gabriel, de 13. A família, aliás, ele faz questão de destacar ao falar da trajetória profissional. "A princípio, eu não queria, não conseguia pensar como seria capaz de treinar cegos. Mas acabei topando e, no primeiro treino, percebi que aquilo era para mim. Era para ir duas vezes na semana e passei a ir todos os dias. Ia de manhã e à tarde, sem ganhar um centavo, e à noite fazia Uber. Minha esposa segurou as pontas durante quase dois anos nessa luta. Só tenho a agradecer por tudo. Quem não me conhece acha que foi fácil chegar onde estou. Mas só Deus sabe o quanto a gente ralou", conta.


Além do ouro daqui a quatro anos, Cesinha tem outra tarefa difícil pela frente: começar a trabalhar o grupo para que se torne menos dependente dos craques mais experientes, como Nonato, Ricardinho e Jefinho, que estarão próximos dos 40 anos na Paralimpíada que vem. "Como técnico, vou torcer para que eles cheguem no mais alto nível possível em 2028, sejam protagonistas e ajudem o Brasil a conquistar seu objetivo. Mas, independentemente disso, a gente tem de trabalhar para, a cada dia, ser mais independente não só de Ricardinho ou de Jefinho, mas de qualquer jogador. Eles não vão jogar por toda a vida. Então, precisamos trabalhar para construir um grupo forte", conclui o novo comandante do Brasil.

 

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Cesinha conversa com Ricardinho, à sua esquerda, e Tiago Paraná durante a aclimatação do Brasil em Troyes, na França, antes dos Jogos de Paris 2024. Foto: Alessandra Cabral/ CPB.

 

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