Tecnologia ajuda atletas cegos a se manterem ativos na quarentena
Por Comunicação CBDV
29/05/2020
São Paulo/SP
Em vez de bolas com guizos e golpes no tatame, mensagens nos grupos de WhatsApp e reuniões online pelo aplicativo Zoom. Impossibilitados de treinar presencialmente nas quadras e ginásios por conta da pandemia do novo coronavírus (COVID-19), os atletas paralímpicos com deficiência visual se viram como podem e recorrem à tecnologia para não ficarem parados.
Se para um trabalhador de qualquer outra área o home office virou uma solução capaz de suprir grande parte da rotina do escritório, na vida dos esportistas de alto rendimento do futebol de 5, goalball e judô – todas elas modalidades geridas pela CBDV (Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais) –, as perdas física e técnica são inevitáveis.
A maneira de se manter minimamente ativos é via internet. Atual tricampeã brasileira de futebol para cegos, a Agafuc, do Rio Grande do Sul, viu a sua quadra em Canoas se transformar em depósito de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), utilizados pelos profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate ao vírus.
"Enviamos aos atletas os exercícios por áudio e vídeo no nosso grupo do WhatsApp, cobrando para que treinem pelo menos duas vezes por semana. Eles têm de mandar fotos e vídeos para nós mostrando a execução das atividades. São exercícios de alongamento e alguns básicos com bola", explica Rafael Astrada, treinador da equipe do melhor jogador do mundo desta modalidade, o ala Ricardinho.
No caso do Maestro-PR, campeão vigente da Série B no futebol de 5, as instruções da comissão técnica comandada por Fábio Costa também são passadas por mensagens de áudio e vídeo. Depois, os atletas se reúnem, mas no ambiente virtual, para tirarem dúvidas e acertarem detalhes do treinamento. "Realizamos semanalmente um encontro via aplicativo Zoom para melhor entendimento das instruções técnicas", conta Renata Pozzi, gestora do time idealizado pelo ex-jogador de futebol Ricardinho.
Campeões do goalball treinam separadamente
Moniza, atleta do Sesi e da seleção brasileira, faz exercício com halteres no banco da academia, usando máscara de proteção facial. Não há ninguém perto dela
Soberano no goalball em 2019, quando conquistou os títulos brasileiros no masculino e feminino, o Sesi-SP passou por duas fases durante a quarentena: a primeira, em março e abril, seguiu os moldes do que a maioria das equipes têm feito, com instruções à distância. Desde maio, porém, a comissão técnica vem trabalhando presencialmente com parte dos dois times em Suzano-SP.
Claro que há todo um protocolo. As atividades dentro da academia são feitas em horários exclusivos para quem é do goalball – o Sesi possui outras modalidades sob seu guarda-chuva. Ao chegar até o ginásio, cada atleta tem a temperatura medida e segue até o vestiário, já previamente higienizado. A quadra também é desinfetada pelo próprio treinador, Diego Colletes.
"A gente sabe que para os atletas de alto rendimento fica muito difícil passar tanto tempo totalmente afastados do contato com bola. Mudei totalmente a estratégia de treino. Normalmente não trabalhamos de forma tão individualizada", diz Colletes.
Quem não conta com a mesma estrutura acaba recorrendo mesmo à internet. "Tenho feito fichas com os exercícios para cada grupo muscular. Envio e eles retornam mostrando como estão fazendo a execução", explica Diego Valadares, treinador da Adevibel-MG, campeão da Série B entre os homens no ano passado. "A gente fez um mapeamento do espaço que cada uma tem em casa. E elaboramos treinos nos quais elas consigam executar os movimentos de acordo com esses espaços", diz Gabriel Goulart, técnico do Cetefe-DF, atual vencedor da Segunda Divisão feminina.
Família entra na dança dos judocas
Núbea está deitada no chão do apartamento aplicando golpe no marido Marcio Fraga, que "voa" sobre ela
Diferentemente do futebol de 5 e do goalball, em que se aplicam treinos técnicos individualmente, no judô o distanciamento social torna impossível aprimorar os golpes sem um oponente. O jeito, então, é colocar quem mora sob o mesmo teto na parada.
"Minha esposa entrou na dança! Ela bota quimono, eu faço entradas de golpe, ela fica parada, não dá para fazer mais do que isso (risos)", conta Roberto Paixão, campeão na categoria até 60 kg do último Grand Prix Internacional de Judô Paralímpico. "Estou treinando em ritmo forte dentro das limitações impostas pelo isolamento social. Meu marido, que também é preparador físico, me auxilia nessa rotina", conta Maria Núbea Lins, da seleção brasileira, outra que utiliza o cônjuge como "sparring".
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Renan Cacioli
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