#Tenorio50: quimono em cima da hora para o primeiro ouro do Brasil

#Tenorio50: quimono em cima da hora para o primeiro ouro do Brasil

por Comunicação CBDV — publicado 2020/10/20 00:00:00 GMT-3, Última modificação 2022-03-10T15:14:21-03:00
Aos 25 anos, brasileiro atropela todo mundo, incluindo campeão mundial, em sua estreia em Paralimpíadas

Por Comunicação CBDV
20/10/2020
São Paulo/SP

Os Jogos Paralímpicos de Atlanta, em 1996, marcaram não apenas o início da trajetória avassaladora de Antônio Tenório na principal competição do planeta como também foram a primeira edição na qual a delegação brasileira contou com um apoio de um comitê nacional. Pouco mais de um ano antes, em fevereiro de 1995, nascia o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), um divisor de águas para a história paradesportiva do Brasil.

No caso específico do judô, a novidade pelo suporte à modalidade foi uma fase de treinamentos intensa em Manaus às vésperas dos Jogos, como se recorda o secretário-geral da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV), Helder Maciel, na época um jovem atleta classificado para a Paralimpíada na categoria até 60 kg.

"O esporte paralímpico não tinha tanto apoio, não existia a Lei Piva. Mas Atlanta foi a primeira edição com o CPB que, por meio do João Batista (presidente da entidade na época), angariou recursos, e a gente teve condição de treinar. Fomos para Manaus para um período de adaptação e treinamentos durante mais de 20 dias", conta.

Após os três bronzes conquistados em Seul 1988, na primeira edição com o judô paralímpico incluído na grade de disputas, o Brasil passara em branco em Barcelona 1992. Por isso, era importante obter melhores resultados em Atlanta. E mesmo sendo a estreia de Tenório, todos sabiam do que ele era capaz.

"Eu pesquisava muito sobre os campeões das edições anteriores e, pelo que o Tenório vinha desenvolvendo, acreditava muito nele. Só que tinham outros atletas muito bons que, às vezes, a gente nem conhecia. Não havia tanta informação como hoje. Mas quando saiu o sorteio da chave dele, dois rivais nós já conhecíamos", explica o sensei Fernando da Cruz, técnico da Seleção Brasileira na ocasião.

O que o treinador não esperava era uma brincadeira em cima da hora que lhe tirou alguns fios de cabelo. Quem conta essa história é Helder: "Dois dias antes da competição, o Maurício (de Lima, atleta da categoria até 65 kg) e o Tenório deixaram a mochila com os quimonos de competição comigo e disseram: 'Moleque, cuida das nossas coisas'. E eu larguei tudo no ônibus que levava a gente até o local de treinamentos. Um dia antes da estreia, quando vieram procurar as coisas, ninguém mais encontrou nada, deve ter ficado em outro ônibus. Foi uma correria danada para arranjar outro quimono!", diverte-se o ex-atleta, na época com apenas 16 anos de idade.

"Alô, é o Pelé!"

O primeiro adversário no tatame de Atlanta foi o britânico Ian Rose, simplesmente o então campeão europeu e mundial. A vitória do brasileiro por wazari foi o indício de que algo maior estava reservado ao novato. "Eu me esqueci da regra de ouro no esporte: nunca subestime a competição, nunca. Eu era o atual campeão europeu e mundial, quem iria me vencer? Ninguém! Mas então esse novo brasileiro apareceu e me venceu na primeira luta", diria o britânico, anos depois.

Na semifinal, um ippon sobre o francês David Guillaume já garantia ao país o melhor resultado de sua história, afinal, a prata estava assegurada. Mas havia outro problema: "O Tenório tinha se queixado do punho machucado. Mas o que preocupava mais eram as pernas. Ele mudava a posição da pegada toda hora para confundir os adversários, era muito solto. Antes da final, tirei ele da área de competição e o levei até uma maca. Falei com a massagista que ela precisava soltar os músculos, deixá-lo preparado", relata o sensei Fernando.

Como as finais eram disputadas em sequência somente após todas as lutas qualificatórias das demais categorias, deu tempo de o brasileiro se restabelecer e chegar inteiro para encarar o espanhol Francisco Moedo, medalhista de bronze no Campeonato Europeu de 1995, na luta decisiva. "Ele jogou de uchi-mata (golpe no qual o judoca utiliza o quadril como alavanca após entrar com a perna na guarda do oponente) e conseguiu o ippon, não demorou muito a luta", lembra-se o técnico da seleção.

#Acessibilidade: raro registro do golpe final de Tenório no espanhol Moedo, na final paralímpica de Atlanta


Ainda na área de competição, o rádio comunicador que o sensei utilizava tocou e uma pessoa do outro lado da linha perguntou: "Como tá o negão, professor?". "Era o Pelé!", diz Fernando, sobre o papo com o Rei do Futebol, que era o ministro do Esporte na época. Foi um sonho realizado", conclui o treinador.

Na volta ao Brasil, com o fim do ciclo paralímpico, os patrocinadores foram saindo de cena, levando Tenório a questionar se tudo aquilo tinha valido a pena. "Ele falava que a medalha não tinha valido de nada. E eu disse: 'Não desanima. Agora é que você vai mostrar quem é o Tenório'", explica Fernando. A previsão não poderia ser mais certeira, mas isso já é outra história...

#Acessibilidade: Fernando posa ao lado de Pelé, então ministro do Esporte do Brasil

Semana #Tenorio50

Antônio Tenório da Silva, o maior judoca paralímpico de todos os tempos, vai completar 50 anos de vida no próximo sábado (24). Desde segunda e até o dia do aniversário do atleta, a CBDV vai trazer reportagens relembrando a sua carreira, uma edição especial do "CBDV Ao Vivo" – programa de entrevistas realizado nas nossas redes sociais – com o aniversariante na quinta (22), às 15h, em nosso Instagram, além da exibição do filme "B1 - Tenório em Pequim", que narra a trajetória do ouro em 2008, totalmente gratuita na nossa página do Facebook.


Comunicação CBDV

Renan Cacioli

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